Sua soberba e a vontade de agradar
Eu sei muito bem que essa vontade de agradar todo mundo nem sempre vem de algo tão bonitinho, tão galera da sua parte. Vamos conversar sobre isso? No final tem receita ;)
1. É impossível agradar a todos (que bom)
Eu nunca fui muito do tipo de pessoa que teve dificuldade para se posicionar. O que eu gostava, eu gostava. O que não gostava, também dizia sem problema algum. Sempre fui muito segura das minhas escolhas, das minhas opiniões, dos meus valores. Desde cedo, carregava uma confiança quase instintiva, como se existisse um filtro natural entre o que fazia sentido pra mim e o que não fazia.
Segui assim até chegar na vida adulta, e, em muitos aspectos, continuo sendo essa pessoa convicta. Ainda defendo o que acredito, ainda me incomodo com injustiças, ainda gosto de nomear o que não me cabe.
Mas conforme fui crescendo, fui também aprendendo a gostar mais de mim. E aqui entra uma parte difícil de admitir: comecei a me ver com tanto apreço que não conseguia conceber a ideia de que alguém simplesmente… não fosse com a minha cara. Era inacreditável. Afinal, eu era uma pessoa que agia com ética, que buscava ser justa, que tentava fazer o bem: como alguém poderia não gostar disso?
Na minha cabeça, era quase matemático: se eu era uma pessoa boa, logo as pessoas iriam gostar de mim. Mas não é assim que o mundo funciona. E para entender isso de verdade, levei bons anos choramingando por não ter controle do incontrolável: a forma como os outros me enxergam.
Demorou para eu entender que agradar a todos não só é impossível, como é perigoso.
Porque é trágico assumir a posição de alguém que nunca erra. Além de soberbo, é profundamente irreal. Todos erramos. Todos temos zonas cegas. Mas quando acreditamos que estamos sempre certos, criamos ao nosso redor uma redoma onde tudo o que vem de fora é interpretado como injusto, como ataque, como ingratidão.
Somos nossos melhores defensores - sabemos o que sentimos, conhecemos nossas intenções. E isso faz com que, muitas vezes, a gente justifique cada atitude como se fosse isenta de qualquer falha. É aí que mora o perigo.
Porque quando nos convencemos de que somos “bons demais para incomodar alguém”, começamos a cair numa armadilha sutil: a de agradar a qualquer custo.
Veja bem: se acreditamos que nossas opiniões são tão corretas a ponto de nos tornarmos pessoas impossíveis de não se gostar, então o “não ser gostada” passa a ser lido quase como um erro. E, para evitar esse erro, começamos a suavizar arestas, engolir desconfortos e tolerar o intolerável.
Foi assim que percebi uma contradição em mim: de alguém com opiniões firmes, me tornei alguém que, muitas vezes, se calava diante do absurdo só para manter o clima leve. Comecei a medir palavras, a recuar em conversas, a dar um sorriso que eu nem sentia. Me viciei em ser bem-vinda. Em ser querida. Em ser aceita, mesmo por pessoas que, no fundo, nunca abririam espaço verdadeiro para mim. Contraditório para alguém que nunca ligou em desagradar, não?
Hoje vejo como esse movimento é comum: tantas das nossas ações são moldadas não pelo que sentimos, mas pelo medo de incomodar. A gente evita dizer o que precisa ser dito. Evita dizer “não”. Enfeita os limites com fitas coloridas, esperando que o outro não note que são limites. Criamos rodeios.
Mas, ironicamente, nada disso faz com que as pessoas gostem da gente de verdade. Porque o carinho genuíno não nasce da concessão constante. Nasce do entender tudo que alguém é e, mesmo assim, gostar.
Também tem o outro lado da moeda: as pessoas difíceis, as que vivem apontando o dedo, criticando tudo e todos. Recentemente tive uma experiência com alguém assim. E, por ingenuidade - ou talvez vaidade -, acreditei que essa pessoa me pouparia das críticas por eu ser “alguém legal”. Eu achava que o meu jeito, o meu caráter, o meu cuidado me blindariam dessa maldade tão óbvia. Mas não blindam. Porque quem é cruel com todo mundo, será cruel com você também. Quem fala mal de todos, falará mal de você também. Quem pisa nos outros, em algum momento vai pisar em você também. Não importa o quanto você se esforce pra ser adorável. É difícil aceitar isso. Porque no fundo a gente quer acreditar que pode ser exceção. Que, se formos boas o suficiente, talvez nos poupem.
E é aí que vem uma verdade dolorosa e libertadora ao mesmo tempo:
agradar a todos é impossível.
Porque, para isso, precisaríamos agradar também quem é injusto, cruel e pequeno. E para agradar esse tipo de gente, precisaríamos abrir mão da nossa lucidez, força e senso de justiça. Precisaríamos, inclusive, carregar em nós a maldade que é deles. Tentar agradar todo mundo me levou a experimentar um tipo de rancor que eu nunca tinha sentido antes - um amargo que vem quando você percebe que está tentando caber num espaço onde nunca vai ser bem-vinda.
Por isso, minha cara, entenda: você não é boazinha demais. Você não agradará todo mundo. Nem todos vão gostar de você. E isso é uma bênção. Porque agradar a todos, além de impossível, é exaustivo. E no fundo, é também um ato de soberba.
Achar que todos deveriam gostar de você é acreditar que você é tão especial, tão correta, tão impecável, que ninguém poderia encontrar falha alguma em te olhar. É se colocar num pedestal disfarçado de humildade. Mas não somos especiais assim. Não somos imunes à rejeição, ao incômodo, à crítica.
E quem tenta agradar todo mundo... acaba não agradando ninguém.
Nem aos outros. Nem a si mesma.
2. Recomendação de filme
Esses dias assisti Nonnas, da Netflix, e achei uma fofura. É aquele tipo de filme que não precisa de muito para te ganhar: tem comida, memórias, pessoas cheias de histórias e um ritmo acolhedor, daqueles que aquecem o coração.
A história é inspirada em um restaurante real - a Enoteca Maria - um restaurante que convida avós italianas para cozinhar suas receitas caseiras, cheias de afeto e tradição. E é isso que o filme entrega: muito afeto. No fundo, Nonnas fala sobre luto, recomeço, pertencimento e sobre como a comida pode ser um ponto de encontro entre passado e presente.
Não é um filme que vai mudar sua vida, mas é o tipo de coisa boa de ver quando se quer algo leve, doce, com um toque de melancolia boa.
Achei uma graça!
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3. Receita da semana
Caldo verde é a receita oficial do frio. Brinco que minha mãe não pode ver cair 1 grau que já está cortando a couve. Então essa semana deixo pra vocês minha comida favorita pra esse tempo:
Ingredientes
4 batatas médias, descascadas e cortadas em cubos
1 litro de água
1 colher de sopa de azeite (ou óleo)
1 cebola média picada
2 dentes de alho picados
1 gomo de linguiça calabresa em rodelas finas
1/2 maço de couve-manteiga cortada em tirinhas finas
Sal e pimenta-do-reino a gosto
Azeite extra para finalizar (opcional)
Modo de preparo:
Cozinhe as batatas:
Em uma panela grande, coloque as batatas com a água e um pouco de sal. Cozinhe até que fiquem bem macias.Refogue os temperos e a calabresa:
Em outra panela, aqueça o azeite e refogue a cebola até ficar transparente. Junte o alho e refogue mais um pouco. Adicione a calabresa e deixe dourar.Bata as batatas:
Quando as batatas estiverem macias, desligue o fogo e bata com a própria água do cozimento (pode ser no liquidificador ou com um mixer) até formar um creme.Misture tudo:
Volte o creme de batatas para a panela do refogado e misture bem. Ajuste o sal, coloque pimenta-do-reino a gosto e deixe ferver por uns 5 minutos.Adicione a couve:
Acrescente a couve fatiada e cozinhe por mais 2 a 3 minutos — só até murchar. Não deixe demais para ela não perder o verdinho bonito.Finalize e sirva:
Regue com um fio de azeite por cima e sirva bem quente. Fica ótimo com pão ou torradinhas ao lado!
Nos vemos na próxima semana!
amei!🥰